top of page

Um olhar sobre a minha história

Atualizado: 15 de jul. de 2022

POR YASMIN GARRIDO*

* Estudante do curso de Comunicação Social – Jornalismo da Faculdade de Comunicação da Ufba


Atualizado em 23 de outubro de 2016 ás 20:11



A paixão da doutora Angela Valente pela medicina vem desde a infância e fora herdada de sua mãe Margot, também médica. Iniciou os estudos na Bahia, na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública e logo sentiu a necessidade de ir além. Trabalhou em grandes hospitais do Canadá e, hoje, também atua em São Paulo, onde tem uma clínica de Medicina Antroposófica, além de trabalhar como intensivista. Confira abaixo a entrevista completa realizada pela estudante Yasmim Garrido para a Agência de Notícias em Ciência e Cultura.


 

Ciência e Cultura – Por que você decidiu ser médica?

Angela Valente –Decidi com o ímpeto da juventude e com a forte certeza que não havia dúvida…

Ciência e Cultura – Qual a sua trajetória na medicina?

Angela Valente – Graduei em 1996 pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Naquela noite, ao sair da colação de grau, veio ao meu encontro uma senhora que eu muito conhecia e entregou-me um tubo de ensaio preenchido por dentro. Abri e li um papel com escritos sobre uma pequena menininha que eu havia cuidado durante todo aquele ano. Na data da minha formatura ela já havia falecido. Disse-me a mãe: doutora, vi o seu nome no jornal, vim para agradecer o carinho e o cuidado com a minha filha. Continue fazendo a diferença! Aquele era um dia de alegria. Virou plenitude e verdadeira responsabilidade. Os dois anos que se seguiram foram dentro do Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia, entre pequenos pacientes, descobertas, medos, encantamentos, leituras intermináveis, vivências inenarráveis, erros e acertos. Aí, experimentei os meus primeiros anos de Residência Medica (RM) em Pediatria. Fui desvendando a mim e o Ser Médico que me habitava. Ficou claro o impulso em cuidar de quem estava muito doente e às vezes perto da morte, de quem precisasse de muita ciência e muita alma. Escolhi Medicina Intensiva Pediátrica, com foco nas cardiopatias congênitas (crianças que nascem com problema no coração). Precisei me lançar no mundo, fui fazer o meu terceiro ano de RM no Hospital São Lucas PUC-RS e, de lá mais três grandiosos anos, no The Hospital for SickChildren Universidade de Toronto – Canadá. Voltei para o Brasil, para Salvador, e venho desde então fazendo o melhor que posso. Às vezes acerto, às vezes não, mas sempre sinto a graça de poder ser Médica. Quem media, quem medica (Ah! Porções mágicas), quem caminha atento aos processos de quem se cuida. Em 2007, fui para São Paulo e, entre Hospital do Coração, Beneficência Portuguesa, Pronto Socorro Central de São Bernardo do Campo, Residentes da UNIFESP, alunos da UNINOVE e muitas outras grandes aventuras, eu conheci a Medicina Antroposófica, em 2010. A partir daí e cada dia mais, me transformo em mediar e medicar os meus pacientes do mais físico ao mais sutil. Compreendendo que o adoecer vem.

Ciência e Cultura – O que é a medicina antroposófica? No que ela se difere da medicina convencional?

Angela Valente –O padrão ouro da medicina contemporânea é a Medicina Integrativa. Isso implica em dizer que não cabe mais pensar em complementar ou alternar, como antes se dizia: medicina complementar ou medicina alternativa. A Medicina Antroposófica é em sua essência integrativa. A Antroposofia percebe o homem como um ser espiritual que habita a terra e, por isso, é composto de instâncias sutis e densas. A corporalidade é estruturada em quatro âmbitos: EU- espírito; Corpo Anímico – alma, Corpo Vital e Corpo Físico. Na MA, a história clínica, o exame físico, o diagnóstico e o tratamento levam em consideração essa estrutura. A abordagem é coerente com a demanda do desarranjo encontrado. Ao médico Antroposófico é exigido que tenha plena formação em medicina convencional (MC), pois sua atuação será a partir do Corpo Físico. Cirurgias, cuidados intensivos em UTI, diagnósticos e tratamentos clínicos realizados com a ampliação da arte médica pela Antroposofia. A MA nasce da pergunta da Doutora Ita Wegman (1876-1943) ao pai da Antroposofia, Rudolf Steiner (1861-1925): Como posso, baseada nesses conhecimentos sobre o homem, aliviar e/ou curar as dores dos meus pacientes? Juntos eles se devotaram à tarefa hercúlea de desbravar e descobrir caminhos de cura e alívio de dor baseados nos conhecimentos da ciência espiritual e da fisiologia oculta. Entenderam que o adoecer nada tem a ver com pecado e castigo, está relacionado com a chance de transformação e superação necessários à existência. Desenvolveram o que hoje chamamos de Medicina Antroposófica. Não está pronta, está em eterna evolução, aberta ao que vem do homem e do seu tempo. É absolutamente contemporânea e viva. Conhecimento e prática médica que unem em uma linguagem capaz de construir pontes para cuidar e tratar entre o sutil e o denso; pontes entre antigas tradições alquímicas e a medicina convencional. Hoje encontramos hospitais antroposóficos espalhados pela Europa central, inclusive hospitais universitários como o de Witten-Herdecke e o Charitè-Berlin, ambos na Alemanha. A MA difere da medicina convencional primordialmente por ampliar o olhar ao ser humano para além do Corpo Físico e pelo fato de se direcionar à salutogênese para atuar, enquanto a MC se volta à patogênese. Ambas buscam alívio e cura. O que vale mesmo é integrar.

Ciência e Cultura – Quais os benefícios da medicina antroposófica para o ser humano? Angela Valente – O benefício maior é acolher e abarcar o homem, sua doença e dor em todos os níveis, entendendo o adoecer como oportunidade de superação. Integrada à MC, ela traz ao paciente ampliada possibilidade de cuidados e cura e, nesse processo, estimula a resiliência, a autoconsciência e autotransformação.

Ciência e Cultura – A antroposofia ainda é pouco difundida na Bahia. Por quê? Angela Valente – A Antroposofia está em fase de descoberta. Não só aqui em São Paulo, na Bahia e no Brasil de modo geral, mas em boa parte do mundo. É necessário divulgação, informação e, eventualmente, cursos formativos consistentes na área da saúde, da educação e arte, da agricultura, da economia e da arquitetura. Já existem na Bahia escolas de educação baseada na estrutura antroposófica (Waldorf). Alguns médicos estão fazendo grandes esforços para atuar nos seguimentos públicos e privados.

Ciência e Cultura – Qual a importância da divulgação da pesquisa científica na área da antroposofia? Angela Valente – A sociedade moderna é movimentada pelas forças do intelecto, a ciência é a linguagem respeitada dentro desse âmbito. A Antroposofia traz consigo um cabedal estruturado e muito coerente que discorre sobre a existência humana na Terra. Privilegia a arte e a espiritualidade e se estrutura na ciência. Rudolf Steiner publicou livros como Ciência Oculta e Fisiologia Oculta. Ele, no seu tempo, ansiava por discussões científicas com especialistas das áreas de saúde, educação, agricultura, economia e etc. Entretanto, naqueles tempos ainda não se conseguia mesclar mundos diferentes de ideias. Hoje, com tanto avanço na tecnologia do conhecimento científico, conseguimos reconhecer no mundo material o que ele referia com plena segurança há um século. Em suma, a pesquisa científica é a linguagem que os interessados pelo saber conseguem melhor se comunicar, então gerar e apresentar bons trabalhos científicos sobre a Antroposofia e suas áreas de atuação é dar chance de gerarmos pensamento e consciência sobre esse saber de forma consistente e vigorosa.



 

2 comentários para Angela Valente


  1. Lucila Miranda Araujo disse: Já admirava Dra Angela desde a época de universidade e agora amplio ainda mais essa admiração!! Cuidar do outro, desenvolver olhar integrativo focado no SER humano é um dom de poucos. Parabéns pelo seu caminho e sua dedicação. Com carinho, Lucila . .

  2. Cyro Gentil disse: Para essa médica, qualquer paciente deve de coração tirar muito mais que o chapéu! Parabéns Angela.

Comments


bottom of page